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Chico Xavier tentou inverter o sentido de "censura", para disfarçar apoio à ditadura

(Autor: Professor Caviar)

Poucos conseguem admitir que o "médium" Francisco Cândido Xavier era uma figura ultraconservadora, quase aos níveis de um Olavo de Carvalho, pois se desconta apenas o discurso abertamente rancoroso deste último. Pois, mesmo para fazer julgamentos de valor cruéis, contra os humildes frequentadores de um circo tragicamente incendiado em Niterói, em 1961, ele teve que ter certa "compostura".

Mesmo assim, Chico Xavier era capaz de despejar verdadeiros punhais ideológicos como na declaração dada ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo, no final de julho de 1971, no qual não só defendeu a ditadura militar, como "baixou a lenha" nos movimentos operário, camponês e de moradores sem-teto. É lamentável que setores das esquerdas brasileiras, hoje, ainda queiram dar alguma consideração ao "médium". Essas frases não deixam mentir:

"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz  hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades".

Este depoimento deveria ser divulgado nos círculos esquerdistas que, ingênuos, evocam Chico Xavier como se fosse o "paladino da paz e do progresso social". Um depoimento como este seria igualmente descrito por um histérico golpista dos últimos tempos, e revela a preferência dos "espíritas" ao direitismo ideológico, sepultando a ideia de que os "espíritas" são "neutros" e "têm consideração profunda a todos os tipos de ideologia e opção social".

Defensor da ditadura militar, mesmo numa época em que direitistas do nível do ex-governador da Guanabara e jornalista Carlos Lacerda e do líder católico Alceu Amoroso Lima estavam na oposição, o "médium" mineiro tinha que dissimular o apoio franco (e com o consentimento de Divaldo Franco, diga-se de passagem) ao regime dos generais invertendo o termo "censura", para que Chico Xavier não fosse considerado defensor da censura.

A inversão do termo era tendenciosa, para forjar bom mocismo em Chico Xavier, vendendo a falsa imagem de "opositor da censura humana", quando na verdade toda a obra do "médium" se valeu da apologia ao sofrimento (Teologia do Sofrimento) e dos apelos para o sofredor ficar calado e nunca reclamar da vida. Chico Xavier era "o AI-5 do bem". Além disso, o uso do termo "censura" era um modismo para fazer os livros do "médium" venderem mais, sob o rótulo do falso humanismo.

Com isso, não era a censura ditatorial que era condenada por Chico Xavier, mas a atribuição, sob o rótulo de "censura", do senso crítico das pessoas. Prestando bem atenção no discurso e deixando de lado as paixões religiosas, observa-se que o discurso de Chico Xavier vai contra justamente aqueles que questionam o arbítrio humano e a censura dos militares, porque a verdadeira censura não é conhecida como tal. "Censura", no caso, era o senso crítico, o ato de raciocinar, a consciência de denunciar o que está errado etc. Chico, na verdade, era um APOIADOR da censura ditatorial e passou o tempo pedindo para os sofredores suportarem calados suas desgraças e retribuam com amor o arbítrio cruel dos algozes. Só faltava os torturados do DOI-CODI agradecerem aos torturadores pela (des)graça obtida.

Vamos reproduzir, aqui, um texto que teria sido ditado por Emmanuel, chamado "Não Censures", que pode ser traduzido como "Não Critiques", porque o texto, publicado no livro Rumo Certo, de 1971, o mesmo ano da declaração de amor à ditadura por Chico Xavier, é na verdade um convite às pessoas ficarem caladas e aguentarem em silêncio as adversidades da vida. Vamos lá:

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NÃO CENSURES

Por Francisco Cândido Xavier - atribuído ao espírito Emmanuel - Rumo Certo, 1971

Não censures.

Onde o mal apareça, retifiquemos amando, empreendendo semelhante trabalho a partir de nós mesmos.

O cirurgião ampara o corpo enfermo, empregando atenção e carinho, com bisturis adequados.

O artista afeiçoa a pedra ao próprio sonho, aformoseando-lhe a estrutura com paciência e vagar.

* * *

Ninguém desfaz a treva sem luz.

* * *

E reconhecendo-se que a luz nasce da força que se desgasta, em louvor da cooperação e do benefício, o amor procede do coração que se entrega ao trabalho para compreender e auxiliar.

* * *

Quando estiveres a ponto de desanimar ante os empeços do mundo, de espírito inclinado à acusação e à amargura, lembra-te de Deus cuja presença fulge nas faixas mais simples da Natureza.

A Divina Sabedoria apóia a semente para que germine, propiciando-lhe recursos imprescindíveis à existência; nutre-lhe os rebentos, doando-lhes condições precisas para que se desenvolvam,e, convertida a planta em árvore benfeitora, assegura-lhe a seiva e aguarda-lhe ocasião justa para a colheita dos frutos que enriquecerá o celeiro.

Em toda a parte da Terra, surpreendemos a esperança de Deus, em função ativa, seja na pedra que se erguerá em utilidade, no carvão que se fará diamante, no espinheiral que se metamorfoseará em ninho de flores, na gleba inculta que se transfigurará em jardim.

* * *

Deus opera com tempo igual para todos.

E a própria Sabedoria Divina nos auxilia a todos indistintamente, agindo, criando, renovando e sublimando com apoio nas horas; sempre que nos vejamos defrontados por dificuldades e incompreensões, saibamos servir com paciência e aprenderemos que, à frente dos problemas da vida, sejam eles quais forem, não existem razões para que venhamos a esmorecer ou desesperar.

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