Pular para o conteúdo principal

A "linda" frase que Chico Xavier aconselhou aos outros, mas não a si mesmo

(Autor: Professor Caviar)

"Faça o que eu digo, não o que eu faço", diz o ditado popular. Uma das frases de Francisco Cândido Xavier revela a sua grave hipocrisia, pois ele, se achando acima de tudo e de todos, apesar de um arremedo de humildade que, mesmo assim, é feita para tentar se equiparar a Jesus Cristo, pede aos outros que façam aquilo que ele não fez.

A frase é de um gosto de mel de tanto açúcar: "Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja".

Em primeiro lugar: isso é Teologia do Sofrimento. Sim, os "espíritas" se arrepiam de certas atitudes e posturas. São enérgicos, inflexíveis, moralistas, conservadores e retrógrados, e não medem escrúpulos para adotar atitudes e posturas que confirmam isso. Mas, quando alguém lhes aponta tais defeitos, os "espíritas" reagem aos prantos e tentam desmentir aquilo que assumiram convictamente na véspera.

Pois a apologia ao sofrimento que os "espíritas", a partir do próprio Chico Xavier, fazem, não é assumida devidamente. Nos "centros espíritas", os palestrantes ficam apelando o tempo todo: "nós não viemos para sofrer", "nós não temos carma", "nós viemos aqui para sermos felizes" etc. Mas isso é conversa para lotar "centro espírita". Você lê os livros de Chico Xavier e tudo o que ele diz é para as pessoas aceitarem o sofrimento. No maior cinismo, Chico ainda enfia essas ideias em Humberto de Campos, Meimei, Auta de Souza, Casimiro de Abreu e Castro Alves, que dificilmente iriam compartilhar dessas ideias infelizes.

A Teologia do Sofrimento foi uma corrente muito influente na Igreja Católica durante a Idade Média. Esquecida, ela retornou no século XIX com Santa Teresa de Lisieux e, no século XX, foi popularizada por Madre Teresa de Calcutá (ela mesma acusada de tratamento desumano a seus alojados). No Brasil, a Teologia do Sofrimento acabou se popularizando não nas mãos de católicos assumidos, mas através de um "médium espírita".

DOIS CASOS GRAVES DE JULGAMENTO DE VALOR

Chico Xavier pedia para as pessoas não julgarem. Mas ele julgou, e, o que é pior, duas vezes e em situações que trazem desvantagem a ele. Uma foi através de um livro, e outra, através de um comentário, com o agravante de que Chico tentou jogar seu julgamento de valor pessoal para a responsabilidade de espíritos de falecidos.

Primeiro foi o livro Cartas e Crônicas, lançado em 1966 no qual Chico Xavier inventou uma tese, feita ao arrepio da Ciência Espírita, na qual as humildes vítimas do trágico incêndio ocorrido no Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, em 17 de dezembro de 1961, teriam sido, de forma generalizada, antigos cidadãos da Gália, território do Império Romano que corresponde hoje à França, que sentiam prazer em ver hereges sendo devorados pelo fogo em praça pública.

Chega a ser ridículo. Os antigos tiranos romanos mandavam recolher hereges, inadimplentes e outros plebeus para serem colocados num estádio e serem queimados em praça pública, ou então devorados por leões famintos. Os "espíritas", para tentar justificar tragédias recentes, imaginam que o "destino" - eles entendem como "Lei de Causa e Efeito" - recolhe pessoas aqui e ali para, numa situação qualquer, sofrerem uma tragédia comum para "pagar pelo que fizeram antes".

Isso é um grande absurdo e envolve juízos de valor, visão generalizada que ignora as individualidades das pessoas e, no caso da gente humilde que ia a um circo ver um espetáculo que deveria ser de alegria, uma terrível e impiedosa perversidade. E, o que é mais preocupante, vinda de um homem que é tido como "símbolo maior de humildade e misericórdia".

Só a título de comparação, caso semelhante ao de Chico Xavier já rendeu processo judicial contra um "médium". Foi o médico e "médium" Woyne Figner Sacchetin, usando o nome de Alberto Santos Dumont como suposto espírito, acusar as vítimas da tragédia do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde um avião do voo 3054 da TAM explodiu durante a decolagem, matando 199 pessoas, em 17 de julho de 2007, de terem sido, estas, antigos cidadãos da Gália que também adoravam ver pessoas ardendo em chamas.

Uma família se sentiu lesada pelo "médium" e o processou, obrigando o livro O Voo da Esperança, lançado em 2009, ser retirado nas livrarias. Por sorte, não teve notícia de que algum possível herdeiro do legado do "pai da aviação" (que não deixou filhos) também tivesse processado Woyne, mas sabe-se, pelo bom senso, que Santos Dumont nunca teria escrito aquele livro e nem investido em acusações tão perversas.

Se Chico Xavier não foi processado pelas famílias das vítimas, isso não o inocenta, e piora ainda mais a culpa. Afinal, as vítimas eram pessoas humildes, pobres, de boa índole, de baixa escolaridade, que talvez nem tivessem noção da atrocidade em que foram vítimas. Portanto, não tinham noção de que podiam processar um "médium" que o acusou de terem sido "perversos" em outra vida.

A gravidade está em torno de que Chico Xavier bateu nos mais fracos e queria se esconder nas "calças" de Humberto de Campos. É uma múltipla hipocrisia: Chico fez juízo de valor, que atingiu pessoas humildes sem condições de processá-lo e, na cara-de-pau, usou um escritor falecido, muito mal disfarçado do pseudônimo "Irmão X" - sabe-se que, dentro dos "espíritas", o nome de Humberto de Campos continua valendo, o pseudônimo só foi uma manobra jurídica - , para se livrar de qualquer culpa.

O segundo episódio foi o do caso Jair Presente. Jair foi um universitário e engenheiro que morreu afogado em 1974, aos 25 anos incompletos, quando se divertia com os amigos em Campinas, interior de São Paulo. Chico Xavier foi embarcar na carona da tragédia - os familiares eram "espíritas" e deram a deixa pedindo "mensagens do jovem morto" - e resolveu "psicografar" Jair Presente escrevendo aquelas mesmas mensagens piegas de mershandising religioso, com o mesmo começo de "querida mamãe" e apelos para a "união em Cristo" ou coisa parecida.

De repente, veio a primeira estranheza. Uma mensagem igual às outras. Os amigos desconfiaram. Então, diante disso, surgiu então outras mensagens, forçadamente coloquiais, com gírias demais e um tom mais nervoso de narrativa, como se fosse um interno de um hospício cheirando "pó". Mais desconfiança, porque a mensagem soava mais aflita, mais agressiva, mais neurótica.

Chico Xavier ficou irritado com as críticas e reclamava nos bastidores. Chico teria dito: "Não creio que a rapaziada esteja acreditando muito no que digo. De vez em vez, escuto algum deles a dizer: 'Mas esse Jair não tem jeito, não'. Mas isso é bobagem da grossa". Em 19 de julho de 1975, depois de tantas supostas psicografias, Chico enfiou suas ideias numa carta que ele escreveu sob o nome de Jair Presente, mas que revela claramente o estilo pessoal do "médium":

"Não creio que a rapaziada esteja acreditando muito no que digo. De vez em vez, escuto algum deles a dizer: “Mas esse Jair não tem jeito, não”. Mas isso é bobagem da grossa. Quem tem jeito para melhorar e consertar é só aquele Cristo amoroso e bom de todos os dias. Mas, isso é isso. Se fosse eu o vivo da história, talvez não acreditasse no amigo morto e ficaria ainda mais vivo, se ouvisse mensagens dos que houvessem caído em algum barato do pró-terra-de-pedra e cipreste, antes de mim".

Foi um juízo de valor perverso. Tendo um mínimo de bom senso e abrindo mão de paixões religiosas e fascinação obsessiva por "médiuns", chega-se à constatação que os amigos de Jair Presente estão com a razão. Eles conviveram com ele, conheceram ele muito bem, mais do que o "médium" e isso permite que os amigos de Jair desconfiassem das supostas psicografias. É questão de coerência, temos que abrir mão de prestígios religiosos, que são concepções terrenas como quaisquer outras!

Com esses dois casos, Chico Xavier cometeu uma gravíssima hipocrisia. Pedia para outras pessoas nunca julgassem quem quer que fosse, mas ele mesmo, se achando beneficiado pelo prestígio religioso, se achava no direito de fazer juízos de valor aqui e ali, coisa que virou exemplo para outros palestrantes ou "médiuns" do "movimento espírita". O caso de Divaldo Franco acusando refugiados do Oriente Médio de terem sido tiranos colonizadores é um exemplo. 

E esse juízo de valor é feito à revelia dos ensinamentos originais do Espiritismo e revela, sobretudo, uma grande impiedade vinda de "médiuns tão misericordiosos", por se lembrar de encarnações muito antigas e possivelmente já superadas e definir, de maneira generalizada, grupos de pessoas como se tivessem sido "tiranos" no passado, uma avaliação feita sem exame, na base do "achismo".

Portanto, só esse juízo de valor revela a hipocrisia grave que os "médiuns espíritas", alvos de tanta blindagem social - sugerimos que o PSDB, se quiser manter a antiga blindagem, mude seu nome para ESPÍRITAS, aproveitando a onda de mudanças de nomes de partidos sem esta palavra na nomenclatura - , possuem, sem que a sociedade perceba com exatidão. E é triste que os "médiuns", no seu complexo de superioridade travestido de "humildade" alimentado pelo culto à personalidade, façam o que querem e ainda acham que podem se livrar da responsabilidade dos piores atos. Quanta crueldade vinda de gente que se julga "a melhor representação da bondade humana" no mundo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Publio Lentulus nunca existiu: é invenção de "Emmanuel" da Nóbrega! - Parte 3

OBS de Profeta Gandalf: Este estudo mostra que o personagem Publio Lentulus, utilizado pelo obsessor de Chico Xavier, Emmanuel, para tentar dizer que "esteve com Jesus", é um personagem fictício, de uma obra fictícia, mas com intenções reais de tentar estragar a doutrina espírita, difundindo muita mentira e travando a evolução espiritual. Testemunhos Lentulianos Por José Carlos Ferreira Fernandes - Blog Obras Psicografadas Considerações de Pesquisadores Espíritas acerca da Historicidade de Públio Lêntulo (1944) :   Em agosto de 1944, o periódico carioca “Jornal da Noite” publicou reportagens investigativas acerca da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.   Nas suas edições de 09 e de 11 de agosto de 1944, encontram-se contra-argumentações espíritas defendendo tal mediunidade, inclusive em resposta a uma reportagem anterior (negando-a, e baseando seus argumentos, principalmente, na inexistência de “Públio Lêntulo”, uma das encarnações pretéritas do

Provas de que Chico Xavier NÃO foi enganado por Otília Diogo

 (Autor: Professor Caviar) Diante do caso do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., que divulgou uma farsa alimentícia durante o evento Você e a Paz, encontro comandado por Divaldo Franco, o "médium" baiano, beneficiado pela omissão da imprensa, tenta se redimir da responsabilidade de ter homenageado o político e deixado ele divulgar o produto vestindo a camiseta do referido evento. Isso lembra um caso em que um "médium" tentava se livrar da responsabilidade de seus piores atos, como se ser "médium espírita" permitisse o calote moral. Oficialmente, diz-se que o "médium" Francisco Cândido Xavier "havia sido enganado" pela farsante Otília Diogo. Isso é uma mentira descarada, sem pé nem cabeça. Essa constatação, para desespero dos "espíritas", não se baseia em mais um "manifesto de ódio" contra um "homem de bem", mas em fotos tiradas pelo próprio fotógrafo oficial, Nedyr Mendes da Rocha, solidário a

Um grave equívoco numa frase de Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar) Pretenso sábio, o "médium" Francisco Cândido Xavier é uma das figuras mais blindadas do "espiritismo" brasileiro a ponto de até seus críticos terem medo de questioná-lo de maneira mais enérgica e aprofundada. Ele foi dado a dizer frases de efeito a partir dos anos 1970, quando seu mito de pretenso filantropo ganhou uma abordagem menos confusa que a de seu antigo tutor institucional, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Nessa nova abordagem, feita sob o respaldo da Rede Globo, Chico Xavier era trabalhado como ídolo religioso nos moldes que o jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge havia feito no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God) , em relação a Madre Teresa de Calcutá. Para um público simplório que é o brasileiro, que anda com mania de pretensa "sabedoria de bolso", colecionando frases de diversas personalidades, umas admiráveis e outras nem tanto, sem que tivesse um