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Arnaldo Rocha traiu Meimei?


(Autor: Professor Caviar)

No Brasil, os "médiuns" são uma grande aberração que causaria vergonha e constrangimento a Allan Kardec. Vivem do culto à personalidade, se autopromovem pelo Assistencialismo (que juram ser Assistência Social), sofrem de estrelato travestido de falsa modéstia e vivem de receber prêmios diversos. Para piorar, contrariando as recomendações da bibliografia kardeciana, os "médiuns" se tornam também "donos dos mortos".

Francisco Cândido Xavier tornou-se o maior - e o pior - exemplo disso. Podemos afirmar, observando atentamente os fatos, que ele foi a pessoa mais oportunista que existiu em toda a História do Brasil, algo como se Aécio Neves quisesse ser o Jesus Cristo brasileiro. 

Pior deturpador de toda a história da Doutrina Espírita, Chico Xavier passa para seus seguidores e até simpatizantes, ou mesmo por alguns críticos da deturpação espírita, como se fosse "discípulo exemplar de Kardec", que apenas "catolicizou por acidente", tese que não tem pé nem cabeça,  mas é dominante e está no imaginário de grande parte dos brasileiros.

Xavier costumava bancar o "dono" dos mortos famosos, para forjar sensacionalismo e ser divinizado por isso. Mas dois anônimos ele se apropriou, não bastassem as cartas fake que fazia nas ostensivas sessões "mediúnicas" para mandar supostos recados de parentes mortos para os familiares que deixavam. Devemos lembrar que essa atitude, tida como "a maior bondade de Chico Xavier", foi na verdade uma de suas piores e mais deploráveis perversidades, porque prolongava as tragédias familiares, estimulava o sensacionalismo e trazia publicidade e badalação em torno de sua pessoa.

Os dois anônimos foram Irma de Castro Rocha, a Meimei, professora mineira, e Jair Presente, universitário e engenheiro paulista. O caso de Jair Presente é insólito, pois ele, morto por afogamento em 1974, com 25 anos incompletos, teve uma primeira carta atribuída a ele dentro daquele estilo pessoal de Chico Xavier, com linguagem dócil e apelo igrejeiro. Mas as cartas seguintes vieram com linguagem estranha, forçadamente coloquial e neurótica, como se o espírito tivesse "cheirado pó demais", embora, supostamente, o espírito se declare estar menos atormentado que antes.
Os amigos de Jair Presente desconfiaram da coisa e Chico Xavier reagiu com muita arrogância, irritado quando os jovens que conviveram com o engenheiro diziam que "não havia jeito" para atribuir veracidade às "cartas espirituais". Ríspido, Chico Xavier disse: "Isso é bobagem da grossa" e criou uma mensagem atribuída a Jair dizendo a mesma coisa.

O caso de Meimei parece, à primeira vista, mais "poético". Era a jovem professora de Belo Horizonte que, com 22 anos, se casou com um atleta, Arnaldo Rocha, então um ateu e sem religião, embora tivesse tido um irmão "espírita", Orlando.

Sofrendo de nefrite, ou seja, grave inflamação nos rins, Irma piorou seu estado de saúde dois anos após o matrimônio, e faleceu em 1946, com apenas 24 anos, deixando viúvo Arnaldo, que estava desolado e bastante comovido com a perda. Orlando teria levado o irmão para um "centro espírita" no qual Chico Xavier fazia suas sessões.

APEGO E FÉ CEGA

Diante do processo irregular - que se revela falso - de comunicação com os espíritos, pois Chico Xavier só se comunicava, mesmo, com sua mãe e o padre Manuel da Nóbrega, nunca se interessando em desenvolver honestamente sua mediunidade, preferindo produzir mensagens fake de sua própria imaginação que sempre apresentavam o seu estilo pessoal ou de seus colaboradores (seu tutor Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, e a equipe editorial que produzia o periódico Reformador), Meimei acabou sendo mais uma vítima das supostas psicografias do "médium" igrejista.

Mesmo que Meimei tenha sido católica fervorosa, não procede que ela tenha realmente voltado para dizer mensagens que, claramente, refletem o estilo de Chico Xavier, com seu forte apelo igrejista. Xavier apenas "mudava" a estrutura dos textos, criando poemas ou alguma prosa que simulasse um tom maternal, mas é duvidoso que tenha sido realmente Meimei, e muito provavelmente o espírito dela teria ficado horrorizado diante de tamanha exploração de seu nome, mesmo para fins de pregação religiosa.

Rebaixada a um "Emmanuel de saias", a suposta Meimei passou a ser propagandista da Teologia do Sofrimento, conforme um poema que Chico escreveu creditando ao nome dela, presente no livro Cura, de 1988, supostamente atribuído a diversos espíritos. A obra faz parte de uma fase em que Chico, doente, escreveu pouco e não teria colaborado em parte dos inúmeros livros que levam seu nome, seja como "médium" (o que é óbvio, pelo menos entre nós), seja como escritor.

Esse poema, no entanto, de tão rápido, condiz ao estilo pessoal de Chico Xavier, e mostra também sua pregação em prol da Teologia do Sofrimento, sutilmente expressa em poucos versos:

"Eis a dupla singular;
Escora que nos descansa;
Servir sem desanimar,
Nunca perder a esperança.

Se sofres, serve e confia,
Não te queixes, nem te irrites.

Espera. A bênção de Deus
É proteção sem limites".

É um daqueles poemas "rapidinhos" que, nos anos 80, os livros atribuídos a Chico Xavier divulgavam, e que poderia ser também de colaboração da geração de editores - não mais da FEB, que deixou de publicar livros do "médium" - que trabalhou com ele. Poemas "ligeiros" tão simplórios e fáceis de serem feitos que seria bom demais para ser verdade que eles tenham sido realmente poemas espirituais.

Entre 1946 e 2013, quando faleceu, Arnaldo Rocha acabou se rendendo a Chico Xavier e virou até seu parceiro e amigo. Tomado do profundo apego à memória da amada, Rocha atribuiu "veracidade" às mensagens tidas como de autoria dela, tomado da combinação perigosa entre fé cega e desespero pela morte de alguém.

Há quem desconfie, também, da atitude de Arnaldo, imaginando se ele não teria traído Meimei ao apoiar as supostas psicografias dela, sem verificar veracidade ou coisa alguma, tomado da cegueira emocional das paixões religiosas e do clima de fascinação obsessiva do qual Chico Xavier foi o maior artífice, ele que, influenciado pela hipnose e por outras técnicas de manipulação humana, era capaz de dominar as pessoas da maneira mais maliciosa possível.

Chico Xavier envolveu Arnaldo num clima alucinado de saudade, fascinação obsessiva e paixão religiosa, e lançava mensagens sob o nome de Meimei para mantê-lo sob seu controle, a ponto do próprio Arnaldo tornar-se seu parceiro e cúmplice em muitas atividades, o que indica uma traição à memória de Meimei, que depois de morta se afastou completamente, já no mundo espiritual, daquele clima pesado, nauseabundo e pegajoso, constrangida com a adesão do seu marido àquele embuste.

Vendo bem, é constrangedor que Meimei, mesmo com seu catolicismo devoto, tenha sido usada por Chico Xavier para o propagandismo religioso de um "espiritismo" igrejeiro de apelo fortemente sensacionalista, em mensagens que ela não escreveu porque seguem o estilo pessoal de Chico Xavier. Deixemos essa tolice de dizer que "é maravilhoso os espíritos 'escreverem' com a mesma linguagem iluminada (sic) do grande médium brasileiro que foi Chico Xavier", porque isso, além de ser uma mera imitação, desqualifica os espíritos do além em prol de um ídolo religioso que não era essa maravilha toda de que tanto falam, e nem sequer algo parecido ou próximo disso.

SUPOSTA PSICOFONIA

Outro dado estranho a lembrar é que a suposta experiência de psicofonia de Chico Xavier só era praticamente divulgada por Arnaldo Rocha e seus pares. Essa faceta "pouco conhecida" tem sua baixa divulgação muito estranha, porque Chico Xavier é visto como "importante em tudo" e, de repente, um suposto talento seu não consegue ir além de uma fraquíssima repercussão.

Essa suposta psicofonia se deu na década de 1950, paralelamente aos processos de falsa materialização, na qual se viam pessoas com longos fios de gaze na boca e modelos cobertos de lençol e capuzes brancos com fotos mimeografadas dos mortos coladas na altura do rosto. Esse espetáculo grotesco de materialização, que se seguiu nos anos 1960, foi desmascarado em 1970, com o desfecho do caso Otília Diogo, no qual Chico Xavier saiu impune, apesar dos fortes indícios de que ele sabia muito bem da farsa, com registros dele acompanhando atentamente e com muita desenvoltura os bastidores.

Segundo Arnaldo Rocha, Chico Xavier fez várias psicofonias, inclusive de Meimei. Há registros no YouTube de mensagens do fictício André Luiz e de Emmanuel, que revelam no entanto falsetes porque a voz continuava sendo a do "médium". Há um DVD com essas gravações lançado pela FEB. As mensagens igrejistas pouco variavam e a voz de Chico Xavier se mantém essencialmente a mesma, sem que apresente diferenças grandes na expressão vocal, e mantendo o mesmo tom religioso conhecido de sua obra.

Essa faceta chega a ser questionada até por uma parcela de chiquistas. E isso mostra o quanto Chico Xavier causou confusão, conseguindo desunir até seus seguidores mais fervorosos, que entram em violentos atritos por conta de certos detalhes. A "profecia" da "data-limite" é uma delas, na qual o "médium" Ariston Teles despejou uma suposta psicofonia atribuída ao espírito de Chico Xavier negando de forma veemente a predição, enquanto Divaldo Franco a corrobora e os defensores da "profecia", como Geraldo Lemos Neto e Juliano Possati, atribuem à mesma um suposto valor filosófico.

Diante desse nó de desordens mil, não seria coerente que o espírito de Irma de Castro Rocha tenha se aproximado de Chico Xavier para ditar mensagens igrejeiras. Até pela postura respeitosa que a moça tinha, em seu tempo, ela não se deixaria vender pelo sensacionalismo religioso, e é praticamente certo que a jovem tenha se afastado, horrorizada e constrangida, dos ambientes morbidamente igrejeiros que a evocaram.

É bem provável que Arnaldo Rocha tenha, então, traído Meimei, talvez até por acidente, ao aderir a esse embuste religioso armado por um suposto médium que se tornou o maior deturpador da Doutrina Espírita em toda sua história, um sujeito que foi desonesto ao catolicizar o legado kardeciano e fingir ser um de seus mais dignos representantes. Meimei não teria participado desse circo de horrores travestido de devoção religiosa. Ela teria muito mais o que fazer, em mundos melhores.

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