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Rede Globo e a blindagem dos "médiuns espíritas"

(Autor: Professor Caviar)

Notemos uma coisa. Com Francisco Cândido Xavier morto e Divaldo Franco aposentado, a Rede Globo agora passa a blindar mais um "médium espírita", o goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, terceira aposta para a corporação da família Marinho investir em idolatria religiosa de maneira informal.

Sabemos que o "espiritismo" tornou-se, na prática, um reles Catolicismo à paisana, distanciando-se dos ensinamentos originais trazidos pela Doutrina Espírita na França. O vínculo com o Espiritismo original é só uma formalidade, garantida pelas traduções malfeitas e igrejistas das obras do pedagogo francês Allan Kardec, seja pela FEB, IDE ou similares, mas na prática o que se vê no "espiritismo" brasileiro é tão somente a atualização, num contexto mais esotérico e sobrenatural, do velho e podre Catolicismo jesuíta medieval que vigorou no período do Brasil-colônia.

Não è à toa que o "espiritismo" brasileiro está em boa conta pela Globo, desde os anos 1970. Na verdade, o "espiritismo" igrejeiro sempre teve o suporte da mídia oligárquica, o que deveria fazer qualquer cidadão expressar um mínimo de desconfiança dessa seita religiosa. Mas se até várias pessoas que se consideram "progressistas" são seduzidas pelo "canto da sereia" de "médiuns", pouco importando se Chico Xavier, por exemplo, defendeu a ditadura militar quando ela estava na sua pior fase, então a coisa é grave.

Chico Xavier foi o primeiro ídolo blindado pela Rede Globo, e seu mito de "amor e bondade", já previamente construído pela mente ambiciosa do então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, foi reconstruído de forma habilidosa para fabricar consenso.

É certo que o apoio midiático não é de hoje e Wantuil fazia lobby com a TV Tupi de São Paulo para promover a idolatria a Chico Xavier. Nessa época, ocorria uma coisa curiosa: nos Diários Associados, enquanto O Cruzeiro dava surra no "médium", a TV Tupi e, por vezes, a Rádio Tupi, tratava das feridas. 

Foi esse lobby que obrigou Humberto de Campos Filho, produtor da casa, a aceitar Chico Xavier que, tempos atrás, ele processava por causa da irregular "psicografia" atribuída ao pai. Mais tarde, o filho homônimo do escritor maranhense foi vítima de assédio moral do "médium", através de artifícios de forte apelo emocional numa doutrinária no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, e numa caravana de donativos que transformava em espetáculo atos de mero Assistencialismo.

As Organizações Globo começaram hostilizando Chico Xavier, apenas por causa da presença de católicos como Alceu Amoroso Lima e Gustavo Corção, que não aceitavam paranormalidade no Catolicismo. A hostilidade católica, por sua vez, é mal interpretada, dando a crer que o "médium" mineiro era um reformista católico, quando, observando com mais atenção, se constata que Chico, apesar da paranormalidade, era um católico fortemente ortodoxo, tão medieval quanto Corção. Já o escritor Alceu Amoroso Lima, com o tempo, tornou-se mais humanista e já repudiava a ditadura militar em 1971, enquanto o "médium progressista" defendia o regime militar no programa Pinga Fogo da TV Tupi.

Curiosamente, depois do Pinga Fogo - cuja entrevista de Chico Xavier foi um artifício usado para arrancar o apoio da opinião pública depois que o "médium" foi acusado de cúmplice na farsa de Otília Diogo, desmascarada em 1970 com a apreensão de material usado por ela para fraudes de materialização - , a revista O Cruzeiro fez as pazes com o "médium" e publicou textos ditados por Emmanuel. 

Como "presente", a revista O Cruzeiro, tomada de tão "elevadas energias" do "médium", faliu ao se reduzir a um inexpressivo periódico sem pé nem cabeça e impresso em papel ruim. Oficialmente morto em 1975, O Cruzeiro parecia um pastiche da medíocre revista Visão, até sair de vez dez anos depois.

Chico Xavier teve que ser reinventado, como mito, pelas seguintes razões. A primeira delas é a aposentadoria e posterior morte de seu tutor Wantuil, o "Gepetto" que inventou o "Pinóquio" das "psicografias" fake, que nunca passavam de obras de marketing religioso. A segunda razão foi a crise na cúpula do "movimento espírita" causada por escândalos como a revelação do caso Otília Diogo (que custou o rompimento de Waldo Vieira, antigo admirador e parceiro, com o "médium"), e a denúncia de que a venda de livros "psicografados" foi destinada, sim, para atender aos interesses financeiros da FEB.

Houve a terceira, na qual denúncias de que a deturpação do Espiritismo se tornaria mais radical com o projeto de traduções ainda mais deformadas da obra kardeciana, a serem boladas pela FEESP (Federação "Espírita" do Estado de São Paulo), um escândalo divulgado por um indignado José Herculano Pires.

Consta-se que Chico Xavier apoiou claramente a iniciativa da FEESP, que reduziria a bibliografia kardeciana numa coleção de traduções mais abertamente roustanguistas, mas, mediante o escândalo, o "médium", dissimulador que é, disse "ter aprendido a lição" e passou a defender Herculano Pires. Xavier e Pires eram, de fato, amigos, mas, como diz o ditado: "amigos, amigos...".

Isso deu origem à "fase dúbia", a fase em que o "movimento espírita" passou a bajular Kardec enquanto continuava praticando, mas de maneira disfarçada, o roustanguismo. E isso permitiu também uma reavaliação de estratégias.

Chico Xavier passou a ter o apoio da Rede Globo, como "arma" para concorrer com os pastores eletrônicos das seitas neopentecostais e a Globo achou ótimo investir num "Catolicismo à paisana", com "sacerdotes sem batina" que se tornaram os "médiuns" brasileiros, definidos de forma aberrante e sensacionalista, com direito a culto à personalidade, que os distanciaram da natureza original dos médiuns dos tempos da Codificação.

Com isso, Chico Xavier foi "reinventado" seguindo o mesmo roteiro que o católico conservador Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá. Uma abordagem piegas e ultraconservadora da "bondade humana", que trata os pobres de maneira domesticada e promove uma caridade paliativa de fracos resultados sociais, chamada Assistencialismo, feita mais para promover a idolatria fanática em torno do "benfeitor".

A medida favoreceu também Divaldo Franco, que estava em franca ascensão e o "médium" baiano, definido como "roustanguista convicto" por ninguém menos que José Herculano Pires, pegou carona na "fase dúbia" e, aproveitando de sua pose professoral e sua teatralidade oratória - nos moldes dos velhos catedráticos do saber hierárquico e aristocrata do começo do século XX - , Divaldo passou a fingir ser um "seguidor exemplar de Kardec".

A Rede Globo, com sua habilidade de manipular o inconsciente humano - até uma parcela de seus detratores sofre influência da emissora nos hábitos, crenças, gostos musicais e até gírias - , conseguiu fazer popularizar o "espiritismo", criando uma imagem "asséptica" que misturou a trajetória original do precursos Kardec e a atuação dos deturpadores brasileiros, criando um falso equilíbrio entre os postulados originais franceses e as ideias igrejeiras brasileiras.

Na prática, porém, isso foi uma manobra para transformar o Espiritismo num Catolicismo informal, sem despertar, nos neopentecostais, desconfiança de que a Globo estaria investindo em proselitismo religioso. Um Catolicismo à paisana, aparentemente descompromissado, supostamente ecumênico, era o que a Globo fez com o Espiritismo junto aos deturpadores que comandavam a "fase dúbia" (oficialmente chamada de "kardecismo"). Um Catolicismo sem aparato, sem indumentária, sem pompa, sem as formalidades adotadas pela Igreja Católica propriamente dita.

Isso não eliminou as contradições da "fase dúbia", que aos poucos deixaram de lado a "apreciação" do Espiritismo original, feita apenas como formalidade ou conveniência, para recuperar não as bases espíritas originais, mas as bases do Catolicismo jesuíta medieval que vigorou no período colonial brasileiro. 

Vale observar que os católicos medievais se tornaram menos influentes dentro do Catolicismo e, no período colonial, os jesuítas portugueses foram obrigados a deixar o Brasil por ordens do Marquês de Pombal, primeiro-ministro que impôs uma política de corte de gastos para Portugal e sua maior colônia, depois que a nação lusitana foi atingida por um fortíssimo terremoto acompanhado de uma tsunami em 1755.

O "espiritismo" brasileiro seria, então, um "exílio" religioso para os espíritos de jesuítas que tiveram que deixar o Brasil. Eles retornaram, como espíritos, para intuir no desvio da antiga novidade espírita, que aos poucos foi desnorteada na sua forma brasileira para se tornar, aos poucos, uma forma atualizada do Catolicismo jesuíta medieval.

Daí que tudo o que os "médiuns" representam é fortemente católico e fortemente medieval. Até mesmo um João de Deus cercado de flores, com devoção de ídolo do Vaticano, é evidente, assim como as vozes de padres de Chico Xavier e Divaldo Franco e suas ideias de forte acento igrejista. 

É risível que seus próprios seguidores digam condenar a vaticanização do Espiritismo. Esses críticos são os que mais seguem, e o que eles querem mesmo é manter as aparências de "não-catolicismo". Como a Rede Globo que blinda os "médiuns" e o "espiritismo" brasileiro como um todo, para evitar que os neopentecostais reconheçam a Globo como uma concorrente na disputa da supremacia religiosa sobre a população brasileira.

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