(Autor: Professor Caviar)
O "espiritismo" brasileiro é tão deturpado que ele se reduziu a ser uma doutrina não espiritualista, como normalmente se imagina, mas puramente materialista. E isso se confirma com os dogmas moralistas trazidos pelos "espíritas" brasileiros e seus similares em outros países.
Cada vez mais alinhados na Teologia do Sofrimento, os "espíritas" apelam para as pessoas aceitarem as imposições das circunstâncias, não interferir na vida material, aceitando as piores situações. Se alguém tem um plano de vida, todo um planejamento de intervenção na vida material, através do talento e das habilidades e anseios pessoais, essa pessoa tem que abrir mão de quase tudo, se contentando com o supérfluo e o fútil e se subordinando ao jugo de alguém, sob a desculpa de que, encarando as piores situações, será premiado na vida espiritual.
Não intervir na vida material e ser um capacho das circunstâncias adversas não é sinal de espiritualismo nem de desapego à matéria. Como não se pode intervir na matéria bruta, lapidando a vida carnal com as ações da criatividade humana, então isso é materialismo, pois a não intervenção consiste na atribuição de superioridade à matéria bruta e suas simbologias na vida humana. O simples abandono do erotismo, da cupidez ou do recreio das drogas não faz da pessoa uma espiritualizada em si. Ser beato religioso também pode condicionar a mesma morbidez das orgias.
Outro dado a considerar é que o "espiritismo", ao desvalorizar a vida carnal, reduzida a um período de desgraças e obstáculos intransponíveis, está sendo duplamente materialista. É materialista porque prega que dificilmente a pessoa consegue intervir na brutalidade da vida carnal propriamente dita. E é materialista porque, atribuindo as compensações e recompensas à vida espiritual, também atribui ao além-túmulo uma visão puramente materialista.
Isso põe em xeque o espiritualismo do "movimento espírita" brasileiro, pois até essa qualidade os "espíritas" abandonaram da doutrina original de Allan Kardec. Perdido numa catolicização que praticamente se tornou dominante, o "espiritismo" brasileiro também sucumbiu às paixões terrenas, de forma ainda mais voraz do que aquelas que diz reprovar nas suas pregações.
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