(Autor: Professor Caviar)
É lamentável que o "espiritismo" brasileiro mantenha sempre suas contradições, sob a desculpa do "equilíbrio", desfigurando o legado de Allan Kardec em prol de um igrejismo apoiado na falácia da "afinidade com os ensinamentos do Cristo".
A doutrina igrejista brasileira, popularizada por Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco - agora segue o mesmo caminho o "curandeiro" João Teixeira de Faria, o João de Deus - , "médiuns" dotados de explícito culto à personalidade, se afastou completamente dos ensinamentos do pedagogo francês, por mais que os "nossos espíritas" tentem alegar o contrário.
Tudo virou um vale-tudo igrejeiro, com o forte uso de uma técnica falaciosa chamada "apelo à emoção", em latim Argumentum Ad Passiones, ou simplesmente Ad Passiones. Essa falácia é facilmente observada numa simples busca da Internet, em que o "espiritismo" é ilustrado por imagens, textos e relatos de forte apelo emocional, aos níveis do sensacionalismo e da pieguice, e reforçados sobretudo por romances e palestras "espíritas". Tudo isso contraria a natureza racional do legado kardeciano, desfigurado a níveis dos mais ridículos.
Esse apelo emocional derramado faz com que familiares, sobretudo mães, se comportem de maneira quase debiloide quando recebem mensagens apócrifas atribuídas, oficialmente, aos filhos ou outros entes queridos que morreram. Tudo ambientado com o mais doce fundo musical, e um clima de emotividade que já é previamente produzido pelos membros da plenária de uma "casa espírita".
As doutrinárias também mostram "estórias lindas", algo que já se desenvolve a partir do próprio Chico Xavier, ele mesmo um beato católico, um caipira conservador e, portanto, um propagador de um tipo piegas de emotividade, exagerado e viscoso, que enfeitiçou multidões de coração mole e mente fraca.
Tudo vira uma espécie de "masturbação com os olhos". O êxtase da comoção fácil, em torno de estórias sobre pessoas que perdem tudo e depois obtém alguma graça, um roteiro que apenas varia nos casos pessoais aqui e ali, revela o apego à pragmática dos contos de fadas. Afinal, o "espiritismo" é um conto de fadas para adultos e idosos, através desse entretenimento de supostos "casos de superação", arremedos de velhas estórias infantis de pessoas desgraçadas que obtém alguma dádiva.
Essa prática predomina nos trabalhos "espíritas", e mais do que as apreciações pedantes dos postulados kardecianos originais. Kardec lhes é estrangeiro menos por ter nascido em outro país, no caso a europeia França, do que por representar um conjunto de ideias indigesto para os "espíritas" brasileiros.
O "movimento espírita" prefere esse recreio das comoções fáceis, essa verdadeira brincadeira das tábuas ouija mesclada com imaginário novelesco. E é o Ad Passiones que o "espiritismo" usa como instrumento para atrair e manter seguidores, oferecendo uma "água com açúcar" doutrinária que quase nada tem a ver com a lucidez do pedagogo de Lyon.
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