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Quando o "Humberto de Campos" fake voltou a atacar, como "Irmão X"

(Autor: Professor Caviar)

Depois do fiasco do julgamento do caso Humberto de Campos, que gerou num empate técnico que abriu caminho para o deturpador maior da Doutrina Espírita, Francisco Cândido Xavier, virar um ídolo em proporções totalitárias, o pseudo-Humberto de apelos igrejistas e textos melancólicos volta a atacar.

O texto que reproduzimos é o capítulo 15 do livro Lázaro Redivivo, lançado em 1945 mas elaborado após o fim do julgamento. A novidade é que o livro aparecia com o crédito de "Irmão X", uma paródia usada por Chico Xavier inspirada num dos pseudônimos de Humberto, Conselheiro XX, embora a leitura se faça "irmão xis" diante do "conselheiro vinte" do autor maranhense.

O que se vê claramente é que o livro segue um apelo igrejeiro que não condiz com o estilo original de Humberto de Campos. Mesmo com a vitória simbólica de Chico Xavier no empate, como naqueles empates que rendem pontuação de vantagem a um dos competidores, nota-se que as irregularidades se tornaram ainda mais intensas, e, se levarmos em conta os pontos de vista do jornalista Attila Paes Barreto, da coluna Ineditoriais do carioca Diário de Notícias e autor do livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, o livro de "Irmão X" lembra muito os apelos igrejeiros de Emmanuel. Há uma tese, defendida por Attila, que nem Emmanuel foi autor dos livros que levam seu nome.

Polêmicas à parte, o que se sabe é que o texto abaixo destoa severamente do estilo original de Humberto de Campos. Em nada lembra a narrativa ágil, bem humorada e laica do escritor maranhense. Pelo contrário, a narrativa é pesada, igrejeira e malencólica e as "lições de esperança" remetem à agenda ultraconservadora de Chico Xavier, voltada para a Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica. Com certeza, Humberto nunca perderia tempo escrevendo uma coisa dessas.

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RESPOSTA DO ALÉM

Por Francisco Cândido Xavier - Lázaro Redivivo - Atribuído ao espírito Irmão X, supostamente Humberto de Campos

Minha irmã: valho-me do "correio do outro mundo" para responder à sua carta, cheia da
sensibilidade do seu coração de mulher.

Pede-me a senhora o concurso de Espírito desencarnado para a solução de problemas domésticos no setor de educação aos filhinhos que Deus lhe confiou. Conforma-me, sobremaneira, a sua generosidade; entretanto, minha amiga, a opinião dos mortos, esclarecidos na realidade que lhes constitui o novo ambiente, será sempre muito diversa do conceito geral.

A verdade que o túmulo nos fornece renova quase todos os preceitos que nos pautavam as atitudes.

Aí no mundo, entrajados no velho manto das fantasias, raros pais conseguem fugir à cegueira do sangue. De orientadores positivos, que deveríamos ser, passamos à condição de servidores menos dignos dos filhos que a providência nos entrega, por algum tempo, ao carinho e ao cuidado.
Na Europa, trabalhada pelo sofrimento, existem coletividades que já se acautelam contra os perigos da inconsciência na educação infantil entre mimos e caprichos satisfeitos. Conhecemos, por exemplo, um rifão inglês que recomenda: - "poupa a vara e entrega a criança". Mas, na América, geralmente, poupamos os defeitos da criança para que o jovem nos deite a vara logo que possa vestir-se sem nós. Naturalmente que os britânicos não são pais desnaturados, nem monstros que atormentem os meninos na calada da noite, mas compreenderam, antes de nós, que o amor, para educar, não prescinde da energia e que a ternura, por mais valiosa, não pode dispensar o esclarecimento.

Dentro do Novo Mundo, e principalmente em nos País, as crianças são pequeninos e detestáveis senhores do lar que, aos poucos, se transformam em perigosos verdugos. Enchemo-las de brinquedos inúteis e de carinhos prejudiciais, sem a vigilância necessária, diante do futuro incerto. Lembro-me, admirado, do tempo em que se considerava herói o genitor que roubasse um guizo para satisfazer a impertinência de algum pequerrucho traquinas e, muitas vezes, recordo, envergonhado, a veneração sincera com que via certas mães insensatas a se debulharem em pranto pela impossibilidade de adquirir uma grande boneca para a filhinha exigente. A morte, todavia, ensinou-me que tudo isso não passa de loucura do coração.

É necessário despertar a alegria e acender a luz da felicidade em torno das almas que recomeçam a luta humana, em corpos tenros e, muita vez, enfermiços. Fora tirania doméstica subtraí-las ao sol, ao jardim, à Natureza. Seria crime cerrar-lhes o sorriso gracioso, com os ralhos inoportunos, quando os seus olhos ingênuos e confiantes nos  pedem compreensão. Entretanto, minha amiga, não cogitamos de proporcionar-lhes a  alegria construtiva, nem nos preocupamos com a sua felicidade real. Viciamo-lhas simplesmente.

Começamos a tarefa ingrata, habituando-lhes a boca às piores palavras da gíria eincentivando-lhes as mãos pequenas à agressividade risonha. Horrorizamo-nos quando alguém nos fala em corrigenda e trabalho. A palmatória e a oficina destinam-se aos filhos alheios. Convertemos o lar, santuário edificante que a Majestade Divina nos confia na Terra, em fortaleza odiosa, dentro da qual ensinamos o menosprezo aos vizinhos e a guerra sistemática aos semelhantes. Satisfazendo-lhes os caprichos, dispomo-nos a esmagar afeições sublimes, ferindo nossos melhores amigos e descendo aos fundos abismos do ridículo e da estupidez. Fiéis às suas descabidas exigências, falhamos em setenta por cento de nossas oportunidades de realização espiritual na existência terrestre. Envelhecemo-nos prematuramente, contraímos dolorosas enfermidades da alma e, quase sempre, só reconhecem alguma coisa de nossa renúncia vazia, ;quando o matrimônio e a família direta os defrontam, no extenso caminho da vida, dilatando-lhes obrigações e trabalhos. Ainda aí, se a piedade não comparece no quadro de suas concepções renovadas, convertem-nos em avós escravos e submissos.

A morte, porém, colhe nossa alma em sua rede infalível para que nos aconselhemos, de novo, com a verdade. Cai-nos a venda dos olhos e observamos que os nossos supostos sacrifícios não representavam senão amargoso engano da personalidade egoística. Nossas longas vigílias e atritos angustiosos eram, apenas, a defesa improfícua de mentiroso sistema de proteção familiar. E humilhados, vencidos tentamos debalde o exercício tardio da correção. Absolutamente desamparados de nossa lealdade e de nossa indesejável ternura, os filhos do nosso amor rolam, vida afora, aprendendo na aspereza do caminho comum. É que, antes de serem os rebentos temporários de nosso sangue, eram companheiros espirituais do campo a vida infinita, e, se voltaram ao internato da reencarnação, é que necessitavam atender ao resgate, junto de nós outros, adquirindo mais luz no entendimento. Não devíamos cercá-los de mimos inúteis, mas de lições proveitosas, preparando-os, em face das exigências da evolução e do aprimoramento para a vida eterna.

Desse modo, minha amiga, use os seus recursos educativos compatíveis com o temperamento de cada bebê, encaminhando-lhes o passo, desde cedo, na estrada do trabalho e do bem, da verdade e da compreensão, porque as escolas públicas ou particulares instruem a inteligência, mas não se podem responsabilizar pela edificação do sentimento. Em cada cidade do mundo pode haver um Pestalozzi que coopere na formação do caráter infantil, mas ninguém pode substituir os pais na esfera educativa do coração.

Se a senhora, porém, não acreditar em minhas palavras, por serem filhas da realidade indisfarçável e dura, exercite exclusivamente o carinho e espere pela lição do futuro, sem incomodar-se com os meus conselhos, porque eu também, se ainda estivesse envolvido na carne terrestre e se um amigo do "outro mundo" me viesse trazer os avisos que lhe dou, provavelmente não os aceitaria. 

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