(Autor: Professor Caviar)
Falecido no último dia 07 de dezembro de 2016, o radialista Gerson Simões Monteiro, que era presidente da Rádio Rio de Janeiro, havia declarado que o "médium" Francisco Cândido Xavier havia "previsto" a existência de vida em Marte, em artigo reproduzido no "Correio Espírita".
A estória se deu por causa de descobertas científicas realizadas pela NASA, agência espacial norte-americana, no ano de 2004. Criou-se então um alarde, a partir da declaração de Gerson Monteiro, que tinha alto prestígio e visibilidade no "movimento espírita" fluminense, de que Chico Xavier havia "previsto", de "forma pioneira", a existência de vida humana, sociedades avançadas e canais fluviais artificiais em Marte.
A "façanha" é atribuída, por Gerson, às obras Cartas de uma Morta, de 1935, atribuída à mãe de Chico Xavier, Maria João de Deus, e Novas Mensagens, de 1939, tão levianamente atribuída a Humberto de Campos (por sinal "rebaixado" de acadêmico a "repórter do além-túmulo). Tanto a suposta Maria João de Deus quanto o pseudo-Humberto teriam "viajado" para Marte para "confirmar" a existência de tais aspectos em solo marciano. Gerson atribui 65 anos (tomando como base a obra do "Humberto") de "pioneirismo" de Chico Xavier e seus "parceiros do além".
Observa-se que Chico Xavier deve ter copiado informações de reportagens científicas da imprensa na época, por meio de entrevista com o cientista Robert Millikan, físico experimental estadunidense, Prêmio Nobel de Física em 1923 e professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia, que havia comentado sobre possibilidade de haver vida em Marte e havia detalhado informações que Chico "sequestrou" e pôs na responsabilidade do fictício "espírito Humberto", que sabemos ter escrito numa linguagem muito diferente da que o autor maranhense nos deixou em vida.
A CONTRADIÇÃO
Gerson atribui não só um suposto pioneirismo a Chico Xavier e seus "parceiros do além", aos quais se atribuiu supostas descrições "pioneiras" de Marte - houve também relatos de Emmanuel e do suposto espírito de Abel Gomes - , mas alega à bibliografia do "médium" um "farto material" sobre descrições de vestígios de vida humana no planeta.
Ele comete uma contradição, ao citar a reportagem de Roberta Jansen no caderno Ciências de O Globo, intitulada "O silêncio dos ETs", publicada em 13 de março de 2010. Ele chega a questionar os 50 anos atribuídos pela jornalista aos esforços de cientistas encontrarem vestígios de vida humana e canais fluviais artificiais em solo marciano, atribuindo o prazo para 65, com base no livro do suposto Humberto de Campos.
Mas, em outra passagem, Gerson descreve um trecho em que Roberta cita os estudos de Percival Lowell, o verdadeiro pioneiro na sistematização de estudos neste sentido, em informações que não são questionadas pelo radialista, que deixa passar o trecho reproduzido:
"A ideia da existência de ETs inteligentes começou a ganhar força e a povoar o imaginário da população em geral e de escritores de ficção científica em particular a partir de observações feitas pelo astrônomo Giovanni Schiaparelli, em 1877, de um telescópio recém-construído. Schiaparelli notou que a superfície do planeta vermelho era marcada por linhas e sulcos intrincados, que chamou de canais. Ainda no século XIX, o astrônomo americano Percival Lowell retomou a ideia dos canais marcianos — ele chegou a criar um centro para estudá-los, popularizando-a. Tais canais, sustentava Lowell, só poderiam ter sido construídos por uma inteligência superior. A coisa chegou a tal ponto que ele chegou a localizar a região onde seria a capital de Marte, numa confluência de canais".
Se as pessoas realizarem pesquisas sobre os fatos e os costumes sociais ocorridos entre 1935 e 1939, se verificará que os debates sobre a possibilidade de haver vida em Marte já eram considerados velhos. Na época se havia produções em histórias em quadrinhos e no cinema, nos EUA, que falavam sobre vida em Marte, o que indicava que o tema já era bem conhecido do imaginário popular.
Além disso, a ficção científica já produziu, ainda no século XIX, obras as respeito, vide Jules Verne. E as obras de Percival Lowell que sistematizaram os estudos sobre o tema foram publicados entre 1895 e 1908, antes de Chico Xavier nascer. Portanto, não há como atribuir pioneirismo ao "médium".
Como de praxe, Gerson termina o artigo com apelos religiosos, como em todo texto "espírita" que evoca a ciência para apelar para o igrejismo. Não bastasse louvar o cientista Robert Millikan pela sua suposta reconciliação entre Ciência e Religião, Gerson evoca Allan Kardec, em traduções igrejeiras, citando a "pluralidade dos mundos", através da interpretação católica do recado de Jesus de Nazaré: "há muitas moradas na casa de meu Pai". Jesus e Kardec reduzidos a propagandistas da Santa Igreja.
Ele comete uma contradição, ao citar a reportagem de Roberta Jansen no caderno Ciências de O Globo, intitulada "O silêncio dos ETs", publicada em 13 de março de 2010. Ele chega a questionar os 50 anos atribuídos pela jornalista aos esforços de cientistas encontrarem vestígios de vida humana e canais fluviais artificiais em solo marciano, atribuindo o prazo para 65, com base no livro do suposto Humberto de Campos.
Mas, em outra passagem, Gerson descreve um trecho em que Roberta cita os estudos de Percival Lowell, o verdadeiro pioneiro na sistematização de estudos neste sentido, em informações que não são questionadas pelo radialista, que deixa passar o trecho reproduzido:
"A ideia da existência de ETs inteligentes começou a ganhar força e a povoar o imaginário da população em geral e de escritores de ficção científica em particular a partir de observações feitas pelo astrônomo Giovanni Schiaparelli, em 1877, de um telescópio recém-construído. Schiaparelli notou que a superfície do planeta vermelho era marcada por linhas e sulcos intrincados, que chamou de canais. Ainda no século XIX, o astrônomo americano Percival Lowell retomou a ideia dos canais marcianos — ele chegou a criar um centro para estudá-los, popularizando-a. Tais canais, sustentava Lowell, só poderiam ter sido construídos por uma inteligência superior. A coisa chegou a tal ponto que ele chegou a localizar a região onde seria a capital de Marte, numa confluência de canais".
Se as pessoas realizarem pesquisas sobre os fatos e os costumes sociais ocorridos entre 1935 e 1939, se verificará que os debates sobre a possibilidade de haver vida em Marte já eram considerados velhos. Na época se havia produções em histórias em quadrinhos e no cinema, nos EUA, que falavam sobre vida em Marte, o que indicava que o tema já era bem conhecido do imaginário popular.
Além disso, a ficção científica já produziu, ainda no século XIX, obras as respeito, vide Jules Verne. E as obras de Percival Lowell que sistematizaram os estudos sobre o tema foram publicados entre 1895 e 1908, antes de Chico Xavier nascer. Portanto, não há como atribuir pioneirismo ao "médium".
Como de praxe, Gerson termina o artigo com apelos religiosos, como em todo texto "espírita" que evoca a ciência para apelar para o igrejismo. Não bastasse louvar o cientista Robert Millikan pela sua suposta reconciliação entre Ciência e Religião, Gerson evoca Allan Kardec, em traduções igrejeiras, citando a "pluralidade dos mundos", através da interpretação católica do recado de Jesus de Nazaré: "há muitas moradas na casa de meu Pai". Jesus e Kardec reduzidos a propagandistas da Santa Igreja.
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