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Amigo da Onça tem mais a ver com Chico Xavier do que se imagina

(Autor: Professor Caviar)

No dia 31 de dezembro de 1961, o cartunista Péricles Maranhão, de 37 anos, se suicidou, abalado com as piadinhas que recebia nas ruas por causa do personagem que ele criou, o Amigo da Onça.

Deprimido, ele estava sozinho em casa, quando decidiu abrir o gás de cozinha para ele morrer intoxicado. Antes ele havia colocado um aviso numa porta dizendo para ninguém acender fósforos.

O Amigo da Onça foi um personagem muito popular, nos anos 1940 aos 1960. Depois da morte de Péricles, o Amigo da Onça ainda recebeu charges de autoria de seu colega na revista O Cruzeiro, Carlos Estevão, autor de personagens como Dr. Macarra, que conseguiu herdar o estilo do antecessor.

Por que falar de Amigo da Onça numa página sobre Francisco Cândido Xavier? Não seria um desvio de foco, em se tratando de uma página "espírita"? Não, se percebermos alguns detalhes, e não é apenas o fato de ser alguém falecido por suicídio, prática não muito bem compreendida pelos "espíritas", que a reprovam cegamente, desconhecendo os motivos desta prática. Afinal, se ninguém vive para turismo, também ninguém se suicida por diversão.

Afinal, o Amigo da Onça, consta-se, também foi "plagiado" por Chico Xavier. O personagem Amigo da Onça, surgido de um anedotário popular, era um homem franzino e aparentemente simpático que sempre fazia um comentário gentil àquele que sofrer alguma encrenca ou gafe.

Na ilustração aqui presente, o Amigo da Onça observa um homem experimentando um sapato apertado que dói em um dos pés, pelo fato do calçado ser de tamanho bem menor. Gentil, o Amigo da Onça, vendo a dor do cidadão, faz um comentário simpático e supostamente otimista: "Com o tempo o pé acostuma".

Nenhuma outra pessoa personificou tantas semelhanças com o Amigo da Onça do que Chico Xavier. O "médium" mineiro, erroneamente classificado como "progressista" e "futurista", era na verdade devoto da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que fazia apologia das desgraças humanas e que se tornou o príncípio maior do "movimento espírita" brasileiro nos últimos anos.

Dizia a Teologia do Sofrimento para o sofredor aceitar as desgraças acumuladas na vida, sob o pretexto de serem o caminho fácil para a evolução espiritual. Era uma ideologia de flagelo e fuga, pois a pessoa aceitava viver as piores coisas da vida com "fé e gratidão", de forma a alcançar o "prêmio" das "bênçãos futuras", algo que não tem pé nem cabeça.

O "Amigo da Onça" da vida real não tem a veia cômica nem o ranço da ironia que diverte as pessoas, mas o drama daquele que acha bom a pessoa ficar sofrendo a vida inteira. E o "espiritismo" brasileiro, portador de energias maléficas até pela forma irresponsável com que se consolidou, criando raízes roustanguistas que nem a tardia e aparente aceitação de Allan Kardec consegue disfarçar, acaba se comprazendo com o sofrimento do outro.

Cria-se um teatro da "misericórdia" quando sofredores e algozes precisam ter seus papéis mantidos. Os sofredores aceitando desgraças, os algozes sendo perdoados "incondicionalmente". Um teatrinho da "bondade" complacente, que em verdade é uma forma de colocar a gravidade das desigualdades sociais para debaixo do tapete, e usar a "vida futura" e a "eternidade do mundo espiritual" como pretextos para que se permita que o sofredor desperdice uma vida inteira sofrendo desgraças.

O sofredor paga em excesso os sofrimentos da vida presente. O algoz, por sua vez, "paga" fiado. Ele pode cometer os piores erros, como enriquecimento ilícito e até assassinato, que só "pagará o que fez" na vida posterior. Geralmente é depois do arrependimento, segundo a moral "espírita", o tempo ideal para a pessoa "pagar" as mais pesadas dívidas espirituais.

Pessoas recorrem aos "auxílios fraternos" nos "centros espíritas" acreditando serem eles as tábuas de salvação. Fazem "tratamentos espirituais", cumprindo todos os preceitos, acreditando que seus motivos de sofrimento irão desaparecer, ou pelo menos diminuir ou serem compensados com um benefício maior.

Em vez disso, o que se observa é o agravamento de desgraças, o aumento da vulnerabilidade, como se a pessoa tivesse contraído uma onda de azar. Pessoas que nunca tiveram conflitos ou incidentes pesados passam a ser visadas por assaltantes e por agressores de todo tipo, e encrencas surgem do nada através de incidentes de pouquíssima importância.

As pessoas voltam para os "centros", abaladas com essa "maré de azar", e reclamam aos funcionários do "auxílio fraterno" das novas desgraças obtidas, e a desculpa mais comum que ouvem é essa: os "tratamentos" estão dando certo, mas aqueles "amiguinhos pouco esclarecidos" (eufemismo para espíritos inferiores) é que "estão incomodados" e agem para "a coisa não dar certo".

Isso é conversa mole. Afinal, se a coisa dá certo, ela tem que dar certo. Não existe essa coisa de "algo dar errado" porque "está dando certo" e "alguém se incomoda com isso". Se está dando errado, é porque está dando errado, o "tratamento espiritual" fracassou, ou então ele é nocivo por sua própria natureza. Em se tratando desse "espiritismo" deturpado, igrejista, roustanguista, a última alternativa faz muito mais sentido.

Daí vemos o quanto o Amigo da Onça e Chico Xavier têm muito em comum. A forma de como ser sádico sob um discurso cordial. Chico Xavier havia dito, certa vez, com suas próprias palavras, para a pessoa sofrer sem mostrar sofrimento, e suportar desgraças sem queixumes. Isso não é outra coisa senão imitar os comentários sádicos do Amigo da Onça, com a diferença que a criação de Péricles Maranhão pelo menos figura no âmbito da comédia.

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