(Autor: Professor Caviar)
O que o "espiritismo" deturpado faz... E a religião brasileira é ainda blindada, gozando da mais absoluta imunidade e impunidade que beneficia seus líderes, embora seus simpatizantes não tivessem a mesma sorte.
Uma pediatra em Rondonópolis, interior de Mato Grosso, se recusou a atender uma menina de sete anos que, evidentemente, veio acompanhada da mãe. Esta relatou que a menina havia sido vítima de uma tentativa de estupro por parte do tio, e estava muito abalada por esse violento assédio sexual.
A conversa, que foi gravada, revelou que a médica não quis atender a menina pelas seguintes alegações. A pediatra, que se declarou "espírita", disse que a culpa era da menina, que "tinha uma energia sexual que puxou o tio para ter sexo com ela" e que a criança, por "ter outras vidas", nasceu para "resolver esse problema". A médica ainda disse que ninguém é vítima de coisa alguma.
A mãe da paciente acionou o Tribunal de Justiça do Mato Grosso, denunciando o juízo de valor da médica. Esta tentou se defender, alegando "liberdade de crença, consciência e religião" e que se recusou a atender a menina porque não queria lidar com "problemas espirituais".
O processo deu em condenação por danos morais e a pediatra terá que indenizar a menina e a mãe com uma multa de R$ 10 mil. O Conselho Regional de Medicina abriu uma sindicância para avaliar o comportamento da médica, que pode perder o registro profissional.
"ESPIRITISMO DETURPADO"
A culpa deveria ser dada ao "movimento espírita", sobretudo da parte de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, os maiores deturpadores da Doutrina Espírita que, explicitamente, desfiguraram o legado kardeciano da maneira mais irresponsável, praticando aquilo que já era advertido pelo espírito Erasto sobre os "inimigos internos do Espiritismo".
Chico Xavier e Divaldo Franco espalharam uma série de inverdades, visões mistificadoras e valores moralistas ultraconservadores sob o rótulo do Espiritismo, manchando o legado que Allan Kardec tão trabalhosamente nos deixou.
Chico Xavier, o primeiro dos dois a deturpar violentamente a Doutrina Espírita, com obras que contrariam abertamente o pensamento do pedagogo francês, havia inserido enxertos católicos absurdos, permitindo que os "espíritas" que tanto apelam para "ninguém julgar" façam julgamentos de valor bastante severos.
Há os "resgates coletivos" que, sob a ótica do "movimento espírita", é capaz de atribuir um único destino para pessoas dispersas que apenas compartilham momentaneamente uma situação. E há também os "reajustes espirituais" ou "resgates morais", que no caso individual transformam a vítima em "culpada", atribuindo a ela, da forma desprovida de lógica que é o "espiritismo" brasileiro, supostos delitos de "vidas passadas".
O "resgate moral" foi a acusação dada pela pediatra que, seguindo a orientação moralista tão difundida pelo "espiritismo", e sobretudo por Chico Xavier em suas próprias palavras - Divaldo é mais discreto e sutil neste sentido - , falava em "provas e expiações" de "outras vidas", numa abordagem muito diferente da que aparentemente se atribui a Kardec, que em verdade não se preocupava com uma pregação moralista dessas.
Trata-se de uma interpretação, calcada no Catolicismo medieval - verdadeira base do "espiritismo" brasileiro - , que remete ao dogma dos "castigos e recompensas" que está de acordo com o moralismo ultraconservador que Chico Xavier, beato católico, por ser rezador de terços e adorador de imagens de santos, introduziu de maneira irresponsável no Espiritismo, corrompendo o legado kardeciano de maneira preocupante, lançando más sementes de más árvores que deram em maus frutos.
Não há como acusar a pediatra de ter "interpretado mal" a doutrina. A sua conduta faz parte do conjunto da obra do "espiritismo" que nasceu deturpado, e cuja responsabilidade deve se dar até pelo roustanguismo que é colocado debaixo do tapete. É tanta deturpação que os "espíritas" não têm moral para evocar Erasto e esconder Jean-Baptiste Roustaing, e terão que assumir que Chico Xavier é o Roustaing redivivo, pelas ideias alenígenas que inseriu na Doutrina Espírita.
Por isso, a pediatra tem sua culpa individual, sim, e terá que cumprir a sentença que lhe foi dada. Mas também o "espiritismo" brasileiro tem que ser igualmente responsabilizado pela transmissão de ideias levianas e pelo preço caro que a "catolicização" da Doutrina Espírita estabeleceu, pois não se trata de trazer os "ideais de fraternidade" católicos, mas todo um repertório de ritos, dogmas e valores herdados do Catolicismo jesuíta português, de origem medieval, que prevaleceu por muito tempo no Brasil colonial e encontrou equivalente no "espiritismo da FEB".
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