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A grave ofensa que Chico Xavier fez aos pobres humildes

(Autor: Professor Caviar)

A relação do deturpado "espiritismo" brasileiro, que nunca passou de um roustanguismo enrustido e arrivista, com certos episódios trágicos revela um gravíssimo juízo de valor, vindo justamente daqueles que pedem para outros não fazerem julgamentos de toda espécie. É como diz o ditado "façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço".

Há 55 anos, um incêndio de grandes proporções e causa criminosa aconteceu no terceiro dia da apresentação, naquele último fim de semana anterior ao Natal de 1961, no Gran Circo Norte-Americano, em sua temporada em Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro. O circo estava localizado na Praça dos Expedicionários, hoje com acessos à Ponte Rio-Niterói e onde está sendo construído um mergulhão.

Foi uma triste história. Funcionários avulsos haviam construído as instalações do circo naquela área. De repente, um funcionário de nome Adilson e apelidado de Dequinha discutiu com um dos donos do circo, um membro da família Stevanovich. Foi uma briga feia, e Dequinha saiu expulso. Ele, no entanto, jurou vingança e, pouco depois, se reuniu com dois comparsas num local próximo, no Ponto Cem Réis, para bolar o plano. Os próprios comparsas acharam arriscado o plano de Dequinha, mas ele os convenceu a segui-lo. Era a realização de um incêndio na apresentação de domingo, quando o circo estava lotado.

No dia 17 de dezembro de 1961, durante um espetáculo de trapezistas, alguém gritou que havia sinais de fogo e criou-se um pânico no local. O fogo se espalhou rapidamente e tanto o incêndio quanto a correria causou várias mortes, várias delas no local, outras a caminho ou na internação nos hospitais. Não há um número certo. Oficialmente, o número inicial foi 323. Mas contabilizaram-se 500. Provavelmente teriam sido bem mais do que isso.

Alguns personagens famosos se destacaram no socorro e na solidariedade às vítimas. O empresário José Datrino virou o Profeta Gentileza e passou a regar a generosidade e dar apoio moral às famílias das vítimas. O circense George Savalla Gomes, o palhaço Carequinha, além de prestar solidariedade, financiou a construção de um novo cemitério, já que o número das vítimas era muito grande para todos serem sepultados no Cemitério de Maruí, no Barreto, o mais próximo do local do circo.

Teve também o médico Ivo Pitanguy, depois mundialmente famoso, que realizou operações de tratamento de queimaduras. E o presidente da República, João Goulart, e seu primeiro-ministro - o país havia implantado o parlamentarismo - , Tancredo Neves (o mesmo que não viveu para assumir a Presidência da República em 1985), visitaram o local da tragédia e foram ao Hospital Antônio Pedro, situado na então rua e hoje avenida Marquês do Paraná, onde estavam internadas várias vítimas.

Pouco depois, Dequinha e seus comparsas foram presos e condenados. O crime tornou-se notícia no mundo inteiro. O promissor ano de 1961 terminou tragicamente, antes do Natal, e a tragédia circense criou um trauma em muitos niteroienses, pelo nível chocante da ocorrência. Em 1973, Dequinha fugiu da prisão, e depois foi assassinado.

O JULGAMENTO DE CHICO XAVIER, QUE PEDIA PARA "NINGUÉM JULGAR"

A tragédia foi tão grande que Niterói demorou anos para ter uma nova montagem de circo. O caso gerou uma grande comoção e o Brasil não pôde encerrar o ano de 1961 de forma esperançosa. O Gran Circo Norte-Americano deixou de existir, mas a família Stevanovich continua investindo em circos, criando outros novos.

E como o "bondoso" sr. Francisco Cândido Xavier entra nessa situação?

Simples. Cinco anos depois, em 1966, Chico Xavier, o dito "homem chamado amor", lançou um livro com o singelo mas pretensioso título de Cartas e Crônicas. O livro é atribuído à suposta autoria espiritual do escritor maranhense Humberto de Campos, sob o pseudônimo de Irmão X, escolhido por Chico Xavier como uma paródia do pseudônimo que o autor maranhense lançou em vida, Conselheiro XX.

Escrito provavelmente pelo "médium" e por uma equipe editorial da FEB - entende-se que Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB e habitual co-autor de muitas "psicografias" de Xavier, principalmente os da série "Humberto de Campos", não teria disposição para co-escrever a obra - , Cartas e Crônicas mostra um lado terrivelmente sombrio e extremamente perverso daquele que muitos acreditam ser "espírito puro" e "dotado de amor, misericórdia e humildade". Ao "bondoso médium", mais de uma crueldade foi cometida só com a elaboração e publicação do livro.

Em primeiro lugar, Chico Xavier cometeu uma grande desonestidade consigo mesmo. Ele sempre dizia para as pessoas "não julgarem quem quer que fosse". Mas cometeu um juízo de valor dos mais cruéis, se valendo do mito do "resgate coletivo", uma aberração sem um pingo de lógica, supondo encarnações passadas sem provas, e isso num "espiritismo" deturpado e grotesco, que nunca estudou devidamente a obra deixada pelo pedagogo francês Allan Kardec.

Em segundo lugar, é esse juízo de valor, que atingiu gente até mais humilde do que o suposto "todo humilde" Chico Xavier. Ele havia suposto que as vítimas do incêndio no circo teriam sido romanos sanguinários que viveram no século XII na Gália (parte da França que então integrava o Império Romano) e que tinham prazer de ver hereges sendo jogados na arena para serem incendiados. Supõe-se que haviam sido dispensados os recursos dos leões famintos, até pelo custo de sustentá-los para tão tristes espetáculos.

Em terceiro lugar, Chico Xavier botou tudo na responsabilidade de Humberto de Campos. O "médium" que pedia para ninguém julgar quem quer que fosse cometeu um dos piores julgamentos de valor que se pode imaginar numa pessoa, cometendo desonestidade consigo mesmo e fazendo justamente o que pedia para outros não fazerem. Cometeu crueldade julgamento pessoas humildes, derrubando seu próprio mito de "bondade infinita" e ainda botou a responsabilidade em um morto das acusações tão levianas e tão gravemente ofensivas contra pessoas sofredoras.

O ELITISMO REENCARNACIONAL

Um dado a observar no "espiritismo" brasileiro, a partir das próprias pregações ideológicas de Chico Xavier, é que as injustiças sociais são sempre justificadas pelo juízo de valor e pelas atribuições levianas de supostas encarnações passadas e pelo moralismo severo e medieval dos "resgates espirituais".

Dessa forma, o moralismo "espírita" acusa os pobres de terem sido, em outras vidas, "ricos e poderosos" que fracassaram, e que por isso estão pagando com o infortúnio e a desgraça em encarnações presentes, ou sofrem a tragédia repentina porque "fizeram para isso". 

Por outro lado, os ricos e poderosos de hoje são atribuídos como "humildes que foram bons em encarnações passadas". Dentro dessa moral maniqueísta e perversa, os ricos de hoje são "os pobres que haviam sido bons" e os pobres de hoje são os "ricos que haviam sido maus".

Diante disso, os "espíritas" acabam fazendo apologia às desigualdades sociais atribuindo "reajustamento moral" dos pobres e a "recompensa" dos ricos, e limitando-se a pregar uma caridade de efeitos meramente paliativos que não tragam risco a esse sistema de valores injusto, mas que, sob a ótica "espírita", não deve ser combatido para "evitar conflitos".

A BLINDAGEM CHIQUISTA

Os defensores de Chico Xavier tentam todo tipo de argumento para blindá-lo e tentar livrá-lo de culpa. Acham que a "psicografia" que leva o nome de Humberto de Campos é "autêntica", mesmo quando há uma disparidade extrema em que se observa, na "obra espiritual", vícios de linguagem que Humberto nunca seria capaz de cometer. 

Por isso, acham que o suposto Humberto, muito mal disfarçado pelo codinome "Irmão X", teria "tido moral" para fazer tão "contundente revelação", de que os pobrezinhos teriam sido algozes perversos na Idade Média. Isso é ridículo. E logo o "espiritismo" brasileiro, de conteúdo tão medieval - a religião herdou o igrejismo jesuíta do Catolicismo português de práticas ainda medievais - , mostrar uma falsa aversão à Idade Média!

Com isso, tentam alegar que "não foi Chico Xavier quem disse ou fez". Fanáticos, os chiquistas, capazes de rosnar comentários raivosos quando se acham com tal vontade, tentam dizer que é "um absurdo" atribuir ao "bondoso médium" tais acusações, atribuindo a elas a risível tese de "perseguição a um homem de bem", espécie de "carteirada moral" que faz com que ídolos religiosos sejam inocentados de seus próprios abusos.

Na obra O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, na tradução honesta de José Herculano Pires, a sexta pergunta do item 226 explica melhor o que pode ser o aspecto sombrio de um "médium" que parece, às vistas dos inobservantes, uma pessoa "extremamente bondosa e perfeita":

6. Se as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, porque um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas ou grosseiras?

Conheces todos os segredos da sua alma? Além disso, sem ser vicioso ele pode ser leviano e frívolo. E pode também necessitar de uma lição, para que se mantenha vigilante.

Sejamos lógicos. A obra não poderia ter sido feita por Humberto de Campos. Seu nome foi usurpado por Chico Xavier para ele, Wantuil e a equipe editorial da FEB criarem um "outro Humberto" de textos mais cansativos e deprimentes que os deixados em vida pelo autor maranhense. As contradições são tantas que você nunca verá na "obra espiritual" a narrativa ágil, a escrita culta, bem feita mas acessível que marcou a obra que Humberto de Campos produziu em vida.

Portanto, a culpa é mesmo de Chico Xavier. Muitos trechos dos livros do "espírito Humberto de Campos", além de "cartas" atribuídas ao mesmo espírito, lembram, em estilo, os próprios depoimentos dados pelo "médium", os mesmos que servem, para seus fanáticos seguidores, como "lições de vida e de esperança". A "marca" de Chico Xavier é, na maioria de suas "psicografias", muitíssimo forte, o que sempre traz indícios de que sua "mediunidade" foi uma fraude.

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