(Autor: Professor Caviar)
Até que ponto a retórica da "caridade" e da "bondade plena", que mascaram atos filantrópicos frouxos, que mais parecem contos de fadas a fascinar as multidões, diante de atos que muito pouco ajudam e beneficiam, consegue funcionar diante da opinião pública?
Que sentido a caridade paliativa, que mais deslumbra do que ajuda, só servindo como um "trabalho de fachada" para reforçar o discurso de palavras bonitas da religião, tem entre os brasileiros?
O caso de Divaldo Pereira Franco, tido como "maior filantropo do Brasil" por ajudar menos de 0,1 % da população brasileira, e, antes, de Francisco Cândido Xavier associado a uma vaga filantropia sem resultados benéficos concretos e amplos, revela o quanto é hipócrita esse discurso da "caridade" que aqui temos, que toma um simples processo de servir sopinhas como algo "revolucionário" e "transformador".
Somos enganados por esse discurso de palavras bonitas e atos de fachada que, de graça, transformam dois deturpadores cruéis da Doutrina Espírita, Divaldo Franco e Chico Xavier, em semi-deuses. E para observarmos o caráter duvidoso dessa "revolução da sopinha" de uma caridade paliativa que apenas "beneficia" dentro dos limites das desigualdades sociais, sem incomodar os privilégios das elites (aduladas pelos "espíritas" em seus seminários milionários em hotéis de luxo), basta entrarmos nos aspectos ocultos desse discurso que muitos consideram maravilhoso.
Em primeiro lugar, as atitudes "revolucionárias" e "transformadoras", como doação de roupas velhas, cobertores e a oferta de sopas, são apenas atitudes emergenciais. Elas remetem, no Primeiro Mundo, a surtos de fome coletiva, de guerras, de catástrofes diversas, e servem apenas para minimizar os efeitos drásticos do sofrimento.
Só aqui é que tais atividades são vistas como "revolucionárias" e "transformadoras". É como se confundisse prevenção com remediação, paliativo com qualidade de vida. Mas essas atitudes meramente emergenciais acabam, desta forma, alimentando as vaidades pessoais dos "médiuns", como se não bastasse o "culto à personalidade" que faz dessas figuras um diferencial negativo em relação aos médiuns autênticos dos tempos de Allan Kardec.
Imaginemos. Lá no exterior, sobretudo quando a Europa foi devastada pela Segunda Guerra Mundial, o fornecimento de sopas, agasalhos e cobertores não tinha o menor propósito de trazer uma "revolução social" ou uma "transformação profunda". Tinha apenas o objetivo de evitar os efeitos drásticos do prejuízo humano.
Além disso, os diretores dessas instituições viviam no quase anonimato, e não tinham a intenção de ganhar prêmios e condecorações por causa das sopas, agasalhos e cobertores. Faziam apenas seu trabalho, dentro de limites bastante severos que faziam dessas atividades medidas necessárias e urgentes.
Aqui no Brasil, há um dado a considerar. Diante de tantas possibilidades de resolver desigualdades sociais, se mobilizando contra os abusos das elites afortunadas, é um insulto definir como "revolucionárias" e "transformadoras" ações meramente emergenciais que fariam sentido em lugares devastados por catástrofes ou guerras.
É inútil que os "espíritas" façam seu malabarismo discursivo para definir sua pretensa caridade como "revolucionária" e "transformadora". Mesmo as ações educacionais ou promotoras de emprego seguem apenas níveis inócuos como em todo projeto lançado por um governo ultraconservador como o do presidente Michel Temer.
Além disso, os resultados são sempre superficiais e não transformam. Se transformassem, cidades como Uberaba, tão protegidas pelas "elevadas energias" de Chico Xavier, não estariam em situações humilhantes de violência e miséria que fazem os moradores de lá ficarem assustados e revoltados. Ou o bairro de Pau da Lima, em Salvador, onde se situa a Mansão do Caminho, cujos episódios de violência são noticiados diariamente na imprensa baiana.
Se essas áreas sofrem prejuízo e não benefícios, por que o exército de argumentos frouxos dos "espíritas" para dizer que sua caridade paliativa é "transformadora"? Por que toda uma coreografia de palavras bonitas, feitas para proteger ídolos religiosos, usando a "bondade" apenas como escudo para proteger reputações e prestígios?
A realidade mostra o quanto a caridade paliativa no Brasil não passa de um conto de fadas para proteger os detentores de prestígio religioso, mantendo vaidades pessoais que são mascaradas pela falsa modéstia do deslumbramento religioso, apoiado em ações que mais fascinam multidões do que realmente beneficiam. No exterior, pelo menos a caridade paliativa tem sua finalidade excepcional de evitar prejuízos graves. Aqui ela só serve para alimentar vaidades de ídolos e instituições religiosas.
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