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A infância, as fantasias e a perigosa pieguice das "palavras de amor"

(Autor: Professor Caviar)

Muitos brasileiros continuam infantilizados. Se fascinam, até com muito exagero, com a figura de Francisco Cândido Xavier, por conta de seu estereótipo de "bom velhinho" e de sua associação a ideias aparentes de bondade, amor e humildade.

As pessoas ficam sobretudo falando em "palavras de amor", como se pudessem se comover com simples palavrinhas. Parecem crianças sonhando, só que de uma maneira ainda perversa.

Afinal, é natural e compreensível que as crianças, ou seja, pessoas que estão no começo da vida material, pudessem sonhar e fantasiar. Inventam crenças surreais, criam amigos imaginários, brincam de ser aquilo que não têm certeza que serão no futuro, criam compreensões superficiais sobre certas coisas.

Isso é até saudável. As crianças estão no começo da compreensão das coisas. Sonhando, podem desenvolver ideias e projetos, que o tempo irá moldar e reformular conforme as situações. Daí que é até salutar e positivo que as crianças fantasiem, porque no seu estágio elas precisam dessa forma de compreensão que lhes permite o aprendizado, o entusiasmo e o idealismo.

O problema é quando, na vida adulta, o ato de sonhar e fantasiar se torna uma tirania, através da religião. Quando pessoas adultas passam a usar a fantasia como acima da realidade, e se recusam a desenvolver a visão questionadora e buscar a coerência dos fatos, isso se torna negativo.

É por isso que as religiões, e o "espiritismo" brasileiro não é exceção a esta regra, tornam a fantasia um fenômeno absoluto, quando ela envolve dogmas e totens que seus dirigentes pretendem promover e manter.

Do contrário da infância, em que as crianças, com o tempo, passam a admitir descartar muitas fantasias, na medida em que conhecem o mundo, os adultos religiosos se rebelam e resistem, não raro com muita fúria e loucura, a qualquer reavaliação de dogmas à luz da lógica, reagindo com rispidez aos questionadores.

No "espiritismo", a pieguice das "palavras de amor", que garantem o cego deslumbramento em torno de Chico Xavier, embora seja associada pelos seus seguidores a vibrações energéticas elevadas e a um astral de mansidão e misericórdia, é um sentimento frágil que, com muita facilidade, se converte na raiva espumante, como vinda de feras ensandecidas, diante da mais branda contrariedade.

Isso difere muito das convicções da infância, porque, ainda que crianças se esperneiem, chorem e berrem quando na primeira urgência de abrir mão de suas fantasias, a reação não é tão violenta quanto a de adultos que se tornam violentos quando questionados em suas convicções religiosas.

É uma grande contradição, porque os religiosos, sobretudo os "evoluídos espíritas", sempre se afirmam protegidos por energias elevadas. Acham-se fortalecidos pela mística das "palavras de amor" e outras "coisas lindas", sobretudo pelo legado de Chico Xavier, que definem como a "pessoa mais pura que passou pela face da Terra".

Mas é só surgir uma contestação, por mínima que seja, que as dóceis pessoas confortadas pelas "palavras de amor" se transformem em bestas-feras, tomadas de fúria insana, cegamente irritadas sem prestar atenção ao que a contestação quer mesmo dizer.

No caso de Chico Xavier, se recordam as avaliações enérgicas, porém consistentes e coerentes, dos críticos literários que viram irregularidades sérias no livro Parnaso de Além-Túmulo e na série "Humberto de Campos / Irmão X" e, traumatizados, reagem grosseiros atribuindo as críticas vindas de especialistas literários a "manifestos de calúnia e inveja contra um homem de bem e suas mensagens de amor e paz".

Palavras de amor e mensagens de paz, apelos de fraternidade ou coisas similares, não são desculpas para que fraudes literárias sejam permitidas e aceitas, pois os sentimentos elevados não podem se servir de formas desonestas de expressão artística ou cultural de qualquer ordem, da mesma forma que um veneno não se torna saudável por ser saboroso e deliciosamente digerível.

A gente observa os adeptos de Chico Xavier, escravos de suas convicções religiosas, prisioneiros dessa mística de "bondade" que os faz fascinados, apegados a um ídolo religioso, obsediados por sua imagem e carisma, tomados de cegueira e deslumbramento, com um fanatismo que, para eles, é sinônimo de "boas energias", mas que esconde uma intransigência que reage com violência ao menor questionamento.

É assim que supostas alegações de "amor e paz" do deslumbramento religioso podem se converter em ódio e guerra, como foi no Catolicismo medieval, base doutrinária do "espiritismo" brasileiro. Quando a fantasia se torna tirania, ela é perigosa, por mais que use como pretextos a paz e a fraternidade. Porque, para defender suas convicções, os deslumbrados religiosos podem investir no ódio e na guerra.

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