Em um artigo recente do jornalista Johnny Bernardo de 26/12/2011, levantou-se novamente a polêmica do que aconteceu ao sobrinho de Chico Xavier, que acusou o tio de mistificador e jamais ter sido assessorado por espíritos, sendo um devorador de livros. Tudo isso hoje é comprovadamente verídico. Mas há grandes dúvidas sobre como Amauri morreu. Felizmente, a FEB está digitalizando os antigos números da revista “Reformador” e consegui achar no número de setembro de 1961, página 215, a versão correta sobre a sua morte. Tenho, assim, o prazer de revelar com exclusividade aqui o verdadeiro destino de Amauri.
Antes, porém, reproduzirei o conteúdo do artigo de Bernardo que traz as versões levantadas:
Filho de Maria Xavier, irmã mais velha de Chico Xavier, Amauri Pena nasceu em 1933, em Pedro Leopoldo; um ano e seis meses depois muda com sua família para Sabará (MG). Desde pequeno demonstrou interesse por literatura e aos dez anos já havia lido a versão “psicografada” de Parnaso Além-túmulo, de seu tio. Aos 13 começou a escrever poesias e despertou o interesse do professor Rubens Costa Romanelli, líder de um grupo espírita mineiro. Influenciado por Romanelli e pela aproximação com Chico Xavier, Amauri produziu seu primeiro texto “psicografado” intitulado “Os Cruziladas” – uma epopéia que descrevia o descobrimento do Brasil do ponto de vista espiritual, e que teria sido “assinada” por Camões.
A capacidade intelectual de Amauri, associada ao fato de ele ser sobrinho de Chico Xavier, despertou interesses promíscuos e estratégicos da FEB através de seus interlocutores mineiros da UEM, como Romanelli que a época era secretário do jornal O Espírita. Trazer Amauri para o espiritismo seria vital para a consolidação da doutrina no Brasil e no mundo. De um jovem intelectual e com um futuro promissor, Amauri foi aos poucos seduzido pelo espiritismo. Seu pai viu na proposta espírita uma oportunidade de fugir à pobreza, que a época atingia boa parte dos moradores de Sabará. Acuado, Amauri não viu alternativa a não ser se entregar aos interesses da FEB. Algo, porém, incomodava o poeta sabarense. Veio à depressão e o alcoolismo com suas consequências sociais. Sua família e especialmente seu pai não entendia os motivos de tanto desânimo. Mas Amauri sabia o porquê de sua degeneração. Em julho de 1958, então com 25 anos, procura a redação do Diário de Minas com a intenção de desabafar. Frei Boaventura descreve com fidelidade esse episódio.
Iam às coisas nas mais risonhas esperanças. E eis que, num belo dia de 1958, Amauri Pena procura a imprensa profana para fazer sensacionais declarações: “Tudo o que tenho psicografado até hoje – declarou – apesar das diferenças de estilo, foi criado por minha própria imaginação, sem que precisasse de interferência de almas de outro mundo”. E explicava: “Depois de ter-me submetido a esse papel mistificador, durante anos, usando apenas conhecimentos literários, resolvi, por uma questão de consciência, contar toda a verdade”.
E o sobrinho de Chico Xavier esclareceu mais: “Sempre encontrei muita facilidade em imitar estilos. Por isso os espíritas diziam que tudo quanto saía do meu lápis eram mensagens ditadas pelos espíritos desencarnados. Revoltava-me contra essas afirmativas, porque nada ouvia e sentia de estranho, quando escrevia. Os espíritas, entretanto, procuravam convencer-me de que era médium. Levado a meu tio, um dia, assegurou-me ele, depois de ler o que eu escrevera, que deveria ser seu substituto. Isso animou bastante os espíritas. Insistiam para que fosse médium”.
O jovem e improvisado médium Amauri continua na descrição de sua estranha aventura: “Passei a viver pressionado pelos adeptos da chamada terceira revelação. A situação torturava-me e, várias vezes, procurando fugir àquele inferno interior, entreguei-me a perigosas aventuras. Diversas vezes, saí de casa, fugindo à convivência de espíritas. Cansado, enfim, cedi, dando os primeiros passos no caminho da farsa constante. Teria 17 anos. Ainda assim, não me vi com forças para continuar o roteiro. Perseguido pelo remorso e atormentado pelo desespero, cometi desatinos (…) Não desmascaro meu tio como homem, mas como médium. Chico Xavier ficou famoso pelo seu livro Parnaso de além túmulo. Tenho uma obra idêntica e, para fazê-la, não recorri a nenhuma psicografia.
Feita a confissão, Amauri passa a ser alvo do descrédito do seu próprio pai e do delegado de Sabará que o acusa de “desordeiro” e “beberrão”. Chico decide permanecer neutro, deixando para outros a tarefa de desacreditar o sobrinho se resguardando, ao mesmo tempo, de possíveis ônus da exposição do menino e transmitir a sociedade uma imagem de benevolência e capacidade de perdoar. Somente algum tempo depois, quando deixara Pedro Leopoldo e criara raízes em Uberaba, Chico decide falar sobre o caso seguindo a mesma linha defendida pelo pai de Amauri e o delegado de Sabará.
Sem o apoio da família, e ainda sofrendo as consequências do seu envolvimento com o espiritismo, Amauri se entrega de vez ao alcoolismo e acaba por ser internado em manicômio de São Paulo. Pelo menos essa é a versão oficial. Se verdadeira a informação, em qual dos sanatórios de SP Amauri foi internado? Procurada, a FEB não emitiu qualquer comunicado a respeito. Qual o motivo do sigilo? Como até o começo dos anos 70 não havia em SP clínica particular preparada para atender pacientes com deficiência mental, Amauri somente poderia ter sido internado em um hospital público, e, mesmo assim, como não havia o SUS as transferências eram difíceis e exigia a participação de terceiros – políticos ou entidades com alguma influência no governo – para se concretizar. Não seria esse o caso da FEB?
Há também uma informação desencontrada com relação à morte de Amauri. A história oficial dá conta de que Amauri teria morrido em decorrência do agravamento de sua saúde mental, enquanto se tratava em São Paulo. Mas de acordo com o boletim espírita “Síntese”, de Belo Horizonte, publicado à época, Amauri teria morrido vítima de um atropelamento. Tal versão levanta a suspeita se, de fato, Amauri sofria de problemas mentais e que em decorrência disso teria sido levado às pressas para um sanatório de SP. Como não há indicações claras do local e data de internação, a história oficial parece ter sido criada com o objetivo de abafar o caso desqualificando o relato de Amauri.
E de fato nenhuma das versões está correta. Eis o que de fato aconteceu, contado em detalhes pela revista Reformador de setembro de 1961:
Em nossos números de Agosto a Dezembro de 1958, tratámos do «caso» de um sobrinho de Chico Xavier, o jovem Amauri Pena, cujo pai, com tristeza, havia dito aos jornais: «O meu filho é um doente da alma, todo mundo sabe disso.»
Posteriormente fomos informados de que ele passou, após o premeditado e bem estudado escândalo, amplamente aproveitado pelo clero, por um período de boa situação monetária, sendo visto, em cafés de Belo Horizonte, a exibir o seu novo estado financeiro.
Já no correr de 1959, soubemos que ele estava internado no Sanatório «Bezerra de Menezes», na cidade de Pinhal, Estado de S. Paulo. Sendo-lhe dado alta, ficara trabalhando e residindo na mesma cidade, onde passou a receber (?) e publicar poesias mediúnicas (ou ditas mediúnicas), então com o pseudônimo de Otaviano Severo, conforme se vê à página 6 da publicação «I Conclave Estadual da Fraternidade», editada em Maio de 1959, nas oficinas de «O Município», de S. João da Boa Vista, também do Estado de S. Paulo.
Bebendo, bebendo sempre e o dia inteiro, uma hepatite finalmente veio ocasionar-lhe a desencarnação, em Sabará, sua terra natal, no dia 26 de Junho do corrente ano de 1961. Contava ele 27 anos de idade.
Lamentamos sinceramente o ocorrido, visto que fomos todos vencidos pelos Espíritos trevosos de ambos os planos da vida, os do Além e os que se aproveitaram da fraqueza de um jovem para conduzi-lo por caminhos tortuosos e, por fim, à morte. Todos fomos vencidos. Nós, por não nos ter sido possível encaminhá-lo para a estrada da ascensão espiritual, e ele, por haver perdido uma encarnação que tudo indicava ter-lhe sido concedida para que se reabilitasse de grandes faltas certamente por ele cometidas nos séculos anteriores.
Nada mais poderemos fazer, senão pedir a Deus que lance sobre Amauri Pena a sua misericórdia e que .lhe conceda novas oportunidades de trabalho construtivo.
Um consolo nos resta: Em seus últimos instantes, a pedido dele, sua bondosa genitora leu a “prece por um agonizante”, inserta em ”O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVTII. n.” 58.
Assim, Amauri não morreu em decorrência de sua saúde mental nem de atropelamento, mas de uma hepatite, uma inflamação no fígado. Notem também que não há qualquer menção ao Amauri ter se arrependido das acusações que fez ao tio, ao contrário do que consta em seu verbete na Wikipédia.[1] Aliás, a Wikipédia não traz até hoje (dia 7 de junho de 2012) o ano de sua morte. Bem, ao menos agora essa lacuna poderá ser preenchida.
Vá em paz, Amauri. O tempo encarregou-se de mostrar que você tinha razão. Caso haja outras vidas, que você possa ser mais feliz dessa vez.
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[1] Da Wikipédia: “Ainda de acordo com a pesquisa de Souto Maior, o seu último desejo, algum tempo antes de falecer, foi o de divulgar um documento com um pedido formal de desculpas ao tio, sem que o conseguisse, uma vez que os então diretores da Federação Espírita Brasileira decidiram adiar essa retratação sob a alegação de que os adversários da Doutrina poderiam insinuar que Amauri fora forçado a se arrepender”.
OBS de Kardec McGuiver: A influência de espíritos mal intencionados no "Espiritismo" brasileiro tem feito com que muita gente tenha morrido de maneira estranha, seja por discordar da doutrina, seja para criar uma mitologia. Espiritos inferiores (que se disfarçam de superiores) tem o poder de agir na matéria e criar condições para que nada impeça o sucesso de seus planos de alienar as massas e prender no religiosismo irracional que favorece a estes espíritos e aos encarnados que estes apoiam.
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